Reportagem Especial
Quase metade dos brasileiros avalia educação como insatisfatória, revela levantamento global
Estudo internacional indica queda na percepção positiva sobre o sistema educacional brasileiro e ressalta preocupações com desigualdades, infraestrutura escolar e uso de tecnologia nas salas de aula
A mais recente edição do Global Education Monitor 2024, conduzida pela consultoria Ipsos em 30 países, aponta que 47% dos brasileiros avaliam negativamente a qualidade da educação no país. Apenas 26% dos entrevistados consideram o sistema educacional brasileiro satisfatório — um recuo de 8 pontos percentuais em relação a 2023, quando esse índice era de 34%.
O levantamento, que ouviu 1.500 brasileiros entre os dias 21 de junho e 5 de julho de 2024, também revela que a percepção negativa sobre a educação no Brasil está entre as mais elevadas do mundo, atrás apenas da Hungria (65%), Romênia (54%) e Argentina (51%).
Em contraste, países como Singapura (74%) e Índia (69%) lideram o ranking de satisfação com seus respectivos sistemas educacionais, evidenciando uma disparidade global nas avaliações.
Desigualdade no acesso é o principal entrave
Entre os principais desafios identificados pelos brasileiros estão a desigualdade no acesso à educação (38%), a escassez de financiamento público (35%) e a precariedade da infraestrutura escolar (33%).
Essas preocupações variam de acordo com o contexto de cada país. Na Argentina, por exemplo, 41% apontam um currículo desatualizado como a principal falha. Já na França, 45% dos entrevistados destacam a superlotação das salas de aula, enquanto nos Estados Unidos a segurança nas escolas permanece como uma das maiores inquietações, sendo mencionada por 31% dos participantes.
Apesar da avaliação negativa, quase metade dos brasileiros (49%) reconhece o papel fundamental da educação na redução das desigualdades sociais, demonstrando consciência sobre sua importância estratégica no desenvolvimento do país.
Tecnologia e IA geram desconfiança
O estudo também revela uma crescente preocupação com os impactos da tecnologia no ambiente escolar. Entre os brasileiros, 28% acreditam que os avanços tecnológicos — incluindo o uso de inteligência artificial — terão consequências mais prejudiciais do que benéficas para a educação.
A desconfiança se estende ao uso de ferramentas baseadas em IA, como o ChatGPT. Enquanto 30% defendem a proibição do uso dessas tecnologias nas escolas, 34% se opõem à medida. Países como Canadá e França registram maior apoio à restrição, com mais da metade dos entrevistados favoráveis à proibição.
Proibição de redes sociais para menores tem apoio majoritário
Outro tema de destaque é o uso de redes sociais por crianças e adolescentes. No Brasil, 60% dos entrevistados apoiam a proibição do acesso às plataformas por menores de 14 anos, tanto em ambientes escolares quanto fora deles. O dado acompanha uma tendência global de maior vigilância sobre os efeitos das redes sociais no desenvolvimento infantil.
O índice brasileiro, embora significativo, ainda é inferior ao observado em países como a França, onde 80% da população se manifesta a favor da medida.
Metodologia
A pesquisa da Ipsos foi realizada por meio de entrevistas on-line com 23.754 pessoas em 30 países, respeitando a representatividade demográfica de cada localidade. No Brasil, a margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.
