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“Neymar da sinuca”: conheça o novo astro do jogo que ameaça o reinado do Baianinho de Mauá
Apelidado de Rei da Puxadinha, Felipinho, de 29 anos, trocou o futebol por torneios que valiam um porco e diz que já faturou mais de R$ 1 milhão em premiações
Baianinho de Mauá tem um rival que espera tirar dele o posto de principal jogador de sinuquinha no Brasil. Felipe Martinelli dos Santos, o Felipinho, surge como o grande candidato da nova geração a tentar acabar com o reinado do “Bruxo”.
Aos 29 anos, Felipinho tinha o futebol como grande paixão na infância. A convivência no bar que o seu pai tinha em Curitiba, no Paraná, foi revelando aos poucos o talento para a sinuca. O esporte, ainda visto com certo preconceito, passou a ser a profissão do garoto que foi empilhando vitórias, títulos e altas cifras em premiações – mais de R$ 1 milhão acumulado nas contas dele.
– Joguei uns dois anos futebol, mas aí acabei criando gosto na sinuca por um motivo também, que o meu pai também já era amante da sinuca, jogava e me apoiava. Tudo que eu fazia, ele me apoiava. E querendo ou não, foi onde que comecei a ganhar meu dinheirinho, mais fácil do que o futebol que eu estava pagando no clube. Na sinuca, por mais que o jogo seja um pouco mais barato na época, eu ganhava o meu dinheirinho – explicou.
O início da carreira não foi fácil. Ainda menor de idade, Felipinho não era aceito em competições que sequer tinham premiação em dinheiro. Aos poucos ele foi conseguindo jogar e se destacar.
– Muita gente discriminava, não aceitava que eu jogasse quando tinha torneio. Na época a gente jogava valendo porco, troféu, boi, costela, a premiação mais baixa… Não tinha muito dinheiro. O pessoal não aceitava. Quando eu ganhava, ganhava muitos eventos, botava esse empecilho de ser menor de idade, mas meu pai sempre me acompanhava. Não tinha aquele apoio, foi bem difícil e sofrido – relembrou Felipinho.
Felipinho, jogador de sinuca e candidato a sucessor de Baianinho de Mauá — Foto: Marcos Ribolli
Se Baianinho de Mauá é conhecido por “Bruxo”, Felipinho ostenta fama de “Rei da Puxadinha”. O apelido é por conta da característica da jogada em que consegue dar um efeito ainda maior à bola branca durante o arremate ou para “pregar” o adversário. É uma espécie de trivela (chute com o lado de fora de pé, no futebol) da sinuca.
– Eu puxo muito o bolão para trás, faço muito efeito, e essa jogada pegou bastante porque sou um dos únicos que conseguem puxar bastante o bolão, mais que os outros. Querendo ou não, os fãs gostam da minha jogada, do meu estilo, acabou criando uma marca do “Rei da Puxadinha”. É muito bom, os fãs gostam quando faço isso – explicou Felipinho.
Baianinho de Mauá: rival ou ídolo?
Apesar dos bons resultados e da fama, o “Rei da Puxadinha” ainda está distante da popularidade conquistada por Baianinho de Mauá. Os dois vêm aumentando a rivalidade em confrontos recentes que geram grande audiência na internet e expectativa em torno de quem vai ocupar o posto de melhor jogador de sinuquinha do Brasil.
É uma espécie de disputa de grandes craques do futebol no auge da carreira. A título de comparação, Baianinho soma mais de 1,5 milhão de seguidores nas redes sociais contra pouco mais de 320 mil de Felipinho.
– O pessoal compara dizendo que o Baianinho é o Messi, e eu sou o Neymar. É legal porque nunca imaginei estar jogando ao lado do Baianinho. É lógico que eu quero ganhar, quando entro no jogo quero ganhar. Mas indiscutivelmente sou fã dele, do Rui Chapéu, do Roberto Carlos, que é o pessoal das antigas do mesão. E é uma inspiração já estar jogando contra ele, é muito bom.
– Eu tenho que defender o meu próprio dinheiro, por isso que não posso jogar para perder. O Baianinho tem o nome dele muito grande no mercado, e a gente está tentando colocar nosso nome cada vez mais para cima e tentando vencer na humildade – disse.
Felipinho com o troféu da Liga Brasileira de Sinuquinha (LBS): ele e Baianinho de Mauá venceram duas vezes cada — Foto: Marcos Ribolli
Felipinho e Baianinho de Mauá já se enfrentaram dez vezes. Cada um venceu cinco partidas e conquistou dois títulos da Liga Brasileira de Sinuquinha (LBS). Os dois proporcionaram o jogo com maior premiação da história do esporte, quando Baianinho venceu e ficou com cerca de R$ 400 mil.
– O jogo do Baianinho é muito estratégico, é um jogador 100% estrategista. Eu também tenho uma estratégia muito boa, pontaria boa, defesas boas, mas ainda falta um pouquinho mais de experiência para mim. Sou um pouco novo, tenho 29 anos, o Baianinho já está com 50, então ele é muito mais experiente tanto no jogo quanto na estrada, porque tudo isso ajuda muito o psicológico, ele é muito frio no jogo – disse.
A rivalidade entre Baianinho de Mauá e Felipinho fica de lado quando o assunto é a profissionalização da sinuquinha. Ambos lutam para que o esporte seja federado e possa um dia até entrar no cronograma olímpico.
A sinuquinha é uma adaptação da sinuca e possui bolas mais leves e mais caçapas. Enquanto no modelo tradicional as bolas são centralizadas na mesa, na sinuquinha elas são espalhadas após o estouro e possui diferentes formas de jogar, como a bola 8, o par ou ímpar ou carioquinha – bolas classificadas por apenas duas cores e não numeradas. Os campeonatos são regulamentados pela Liga Brasileira de Sinuquinha.
– Não quero ser melhor que ninguém, quero apenas fazer meu trabalho, ser um jogador, um atleta, uma inspiração igual sou para os meus fãs. E quero que o esporte tenha mais visibilidade, tentar crescer cada vez mais, virar uma Olimpíada, aparecer na TV, é tão legal, tão bonito, viajar para fora. Então esse é o meu sonho, só de estar participando, só de estar na Olimpíada, na TV, para mim está tranquilo.
Felipinho é candidato a sucessor de Baianinho de Mauá na sinuquinha — Foto: Marcos Ribolli
Quanto vale o jogo?
Felipinho joga partidas apostando entre R$ 10 mil e R$ 100 mil, além de competições oficiais que rendem diversos valores. O jogador estima ter ultrapassado a quantia de R$ 1 milhão em premiações ao longo da carreira de 15 anos na sinuquinha.
Felipinho encaçapa as bolas com uma mão no taco e outra nas costas — Foto: Marcos Ribolli
– Pelo que eu já ganhei, contando campeonato, dinheiro, jogo apostado, por mais que não apareça na internet, se for contar na ponta do lápis, acho que ganhei mais de R$ 1 milhão, muito mais. Contando que eu ganhei R$ 100 mil de uma pessoa, R$ 50 mil de outra. Mas esse dinheiro nunca é só para mim, a gente ganha uma porcentagem. Era bom se fosse só para mim.