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Cinco frigoríficos aderem ao Protocolo do Cerrado, revela pesquisa de ONG

Relatório de entidade não-governamental revela também somente duas redes de supermercados — Grupo Pão de Açúcar e Carrefour — passaram a adotar os critérios da iniciativa

Um ano após o lançamento do Protocolo do Cerrado, apenas cinco frigoríficos aderiram ao compromisso de compra responsável de gado, deixando mais de dois terços do bioma desprotegido por critérios socioambientais, revela levantamento da organização não-governamental (ONG) Do Pasto ao Prato (dPaP). Embora sejam líderes do setor, essas empresas respondem por 33,6% da área com perda de vegetação vinculada à pecuária e por 38,8% da capacidade produtiva.

Os dados são do relatório “Radiografia da Pecuária do Cerrado”, que analisa a atuação de frigoríficos e redes varejistas e alerta para o impacto ambiental da pecuária sobre um dos biomas mais ameaçados do país. O estudo denuncia que, mesmo com o crescimento da preocupação ambiental no setor produtivo, as ações efetivas para barrar o desmatamento ainda são tímidas. O Protocolo, lançado em abril de 2024, estabeleceu um padrão voluntário de monitoramento de fornecedores, mas sua adoção ainda está longe de atingir escala significativa.

Segundo o levantamento da ONG, somente duas redes de supermercados — Grupo Pão de Açúcar e Carrefour — passaram a adotar os critérios do Protocolo do Cerrado. Considerando a estimativa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), de que o Brasil tem 1.251 empresas supermercadistas, é possível concluir que uma grande fatia do varejo ainda comercializa a proteína bovina sem nenhuma política de rastreamento dos fornecedores.

A pesquisa mostra que de 44% a 52% da carne bovina consumida no Sudeste são de origem do Cerrado. De acordo com o reelatório, as redes Assaí Atacadista, Mateus Supermercados, Supermercados BH, Irmãos Muffato e Atacadão Dia a Dia são citadas como expostas ao risco de comercializar carne associada a cerca de 83 mil hectares de desmatamento no Cerrado. De acordo com a dPaP, essas empresas compram carne de áreas com alta incidência de conversão de vegetação nativa em pasto e não exigem comprovação de auditoria socioambiental ou monitoramento de seus fornecedores.

Dari Santos, coordenadora de impacto do Do Pasto ao Prato, disse que algumas redes varejistas utilizam estratégias de compra segregada, exigindo dos frigoríficos carne proveniente apenas de propriedades que seguem os critérios do Protocolo. Contudo, a ausência de transparência impede que essas ações sejam verificadas externamente. “Sabemos que a pecuária é um grande vetor de desmatamento no Brasil, é uma cadeia extremamente complexa de se rastrear, porque a gente não está falando somente dos fornecedores diretos, das fazendas em que o gado sai até chegar nos abatedouros frigoríficos. Até ela chegar a esse último elo que fornece o frigorífico, o gado passou por diversas fazendas, seja de cria, de recria, de engorda, todos esses elos da cadeia de quem a gente considera chama-se de fornecedores indiretos, os fornecedores dos fornecedores dos frigoríficos”, explicou.

Desmatamento

Além da baixa adesão ao Protocolo, o relatório chama atenção para o crescente desmatamento do Cerrado. O bioma perdeu, em 2023, a maior área de vegetação nativa na última década, com destaque para a conversão de áreas em pastagens. “Apesar de o desmatamento ter diminuído no ano passado, o bioma perdeu, em 2023, a maior área de vegetação nativa dos últimos 10 anos, equivalente ao Distrito Federal, grande parte motivada pela conversão de terras em pastagens”, afirma Dari Santos. “Isso traz impactos diretos sobre a biodiversidade, o estoque de carbono e os recursos hídricos do país”, acrescentou.

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O relatório também mostra que o Cerrado é importante para o contexto hidrológico do país e do agronegócio. Abriga oito das doze nascentes das principais bacias hidrográficas brasileiras, mas apenas 7,5% de sua área está protegida por unidades públicas de conservação. Ainda assim, concentra o maior rebanho bovino do país, com mais de 225 frigoríficos em operação e outros 68 nas bordas do bioma.

Fonte: CorreioBraziliense

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