Porto Velho, RO, 22 de maio de 2025 00:24

Bono destaca singularidade do público brasileiro, exalta Carnaval e critica cortes em programas de saúde

Durante entrevista concedida ao jornalista Pedro Bial, o vocalista da banda irlandesa U2, Bono, compartilhou observações curiosas sobre sua relação com o público brasileiro. O artista, que internacionalmente é conhecido apenas como Bono, afirmou que o uso da antiga alcunha “Bono Vox” persiste exclusivamente no Brasil — um hábito que ele encara com apreço, embora tenha abandonado o nome completo ao descobrir seu significado literal.

Segundo o músico, o termo em latim “Bono Vox” significa “boa voz” ou “voz poderosa”. Ao compreender o caráter descritivo da expressão, optou por simplificar sua identidade artística. “Deixei de usar o ‘Vox’ porque me pareceu pretensioso demais”, explicou. No entanto, destacou que se sente honrado com a forma como os brasileiros continuam a se referir a ele, associando o hábito a uma percepção positiva e afetuosa de sua carreira. “No Brasil, percebo um estímulo à atitude e à energia. Isso me envaidece”, afirmou.

Interesse cultural e presença em Cannes

Durante a mesma entrevista, Bono manifestou entusiasmo pelo Carnaval brasileiro, classificando a festa como uma expressão cultural que gostaria de ver replicada em seu país de origem. “Levar a folia para a Irlanda seria realizar um sonho”, declarou, ressaltando sua admiração pela festividade como símbolo de liberdade e coletividade.

Paralelamente, Bono também tem ganhado destaque no circuito cultural europeu com o documentário Bono: Stories of Surrender, exibido no Festival de Cannes. A produção, dirigida por Andrew Dominik, mescla performance musical, narrativa pessoal e reflexão artística. Inspirado em sua autobiografia e na turnê homônima, o projeto é um experimento híbrido que une concerto solo e monólogo íntimo. A banda U2, embora mencionada, não participa diretamente das apresentações.

Declarações políticas e engajamento humanitário

Em coletiva de imprensa no festival, o artista abordou sua atuação em pautas humanitárias, com ênfase no programa norte-americano Pepfar (President’s Emergency Plan for AIDS Relief), que oferece tratamento contra o HIV em países africanos. Bono criticou recentes cortes no financiamento da iniciativa, responsabilizando o bilionário Elon Musk e o ex-presidente Donald Trump pela descontinuidade do apoio.

“É inaceitável que um homem branco, bilionário, possa influenciar a interrupção de medicamentos vitais para milhões de africanos. Isso representa, em minha visão, uma forma moderna de apartheid”, afirmou, reiterando sua preocupação com a manutenção de programas essenciais em regiões vulneráveis.

Reflexões sobre a Igreja Católica

Declaradamente cristão, Bono também comentou a atual conjuntura da Igreja Católica. Ele lamentou a morte do Papa Francisco, a quem descreveu como uma figura “extraordinária” com quem manteve um diálogo profundo durante cerca de uma hora. “Fiz todas as perguntas difíceis, e ele respondeu com humanidade”, relatou.

Sobre o novo pontífice, Leão XIV, o músico demonstrou esperança, mas cobrou responsabilidade da instituição. “Vivemos um momento em que o mundo precisa urgentemente da presença da Igreja, mas é imprescindível que ela reconheça e enfrente suas falhas.”

A produção Bono: Stories of Surrender será lançada no Apple TV+ no próximo dia 30, com distribuição também no Brasil.